Porque é a cavidade oral importante na pandemia da COVID-19?
A boca é uma das principais vias de entrada para o SARS-CoV-2 (o coronavírus que causa a pandemia de COVID-19). Este vírus é transmitido principalmente em gotículas de saliva que são expelidas quando uma pessoa infetada fala, tosse, espirros, etc.
Estudos demonstraram que a cavidade oral contém um elevado número de recetores específicos aos quais o SARS-CoV-2 se liga (Xu et al.2020), inclusivamente mais do que nos pulmões. Para além disso, durante os primeiros 10 dias de doença, quando o doente pode estar assintomático e altamente contagioso, o SARS-CoV-2 infecta principalmente o trato respiratório superior: nariz, garganta e boca (Wölfel et al. 2020).
Portanto, a boca pode ser considerada tanto uma via de entrada de vírus no corpo, uma área onde os vírus se podem multiplicar como uma via de transmissão do vírus para outras pessoas (Wölfel et al. 2020).
Que recomendações de saúde oral são aconselháveis a seguir durante este período?
- Escovar os dentes 3 vezes por dia ou após as refeições. Utilizar uma escova de dentes com uma tampa protetora para evitar a contaminação por outras escovas ou pelo meio ambiente. Renovar a escova depois de a doença ter passado. Desinfetar semanalmente a cabeça da escova mergulhando-a num colutório com CPC 0,05% durante 1 minuto.
- Higiene interproximal diária.
- Higiene diária da língua. Este passo é muito importante, uma vez que as células epiteliais da língua têm uma alta densidade de recetores aos quais o coronavírus SARS-CoV-2 se liga.
- Utilização de pastas dentífricas e de colutórios com CPC. No caso dos colutórios, recomenda-se a sua utilização duas vezes por dia durante 1 minuto e a sua utilização como gargarejo para alcançar a parte mais externa da faringe, uma vez que o vírus se reproduz ativamente nesta zona antes de se deslocar para o trato respiratório inferior.
O que é o CPC?
O CPC, ou cloreto de cetilpiridínio, é um antisséptico seguro e eficaz que demonstrou reduzir certas bactérias, fungos e vírus. É amplamente utilizado em pastas dentífricas e em colutórios para a prevenção de doenças orais.
Especificamente, demonstrou eficácia contra vírus como a gripe, rotavírus, vírus do herpes simples, hepatite B e alguns coronavírus (Popkin et al. 2017; Mukherjee et al. 2017; Shen et al. 2019; Alvarez et al. 2020; Seo et al. 2019), a sua eficácia contra algumas estirpes de coronavírus foi utilizada para avaliar a potencial eficácia contra a SARS-CoV-2 (Green et al. 2020; Meyers et al. 2020). Estudos recentemente concluídos pelo grupo IRSI Caixa (Barcelona) confirmaram a capacidade do CPC para agir contra a SARS-CoV-2.
Porque é que o cloreto de cetilpiridínio (CPC) pode ser eficaz na COVID-19?
Porque pode ajudar a diminuir a quantidade de vírus SARS-CoV-2 na boca. Ter menos vírus na cavidade oral e na saliva diminui o risco de que uma pessoa infetada com o coronavírus possa transmiti-lo a uma pessoa saudável. Pode também ajudar a desenvolver uma menor severidade dos sintomas da COVID-19 (Herrera et al. 2020).
Qual é o mecanismo de ação do CPC no coronavírus do SARS-CoV-2?
A membrana deste coronavírus é um elemento-chave no processo de infeção de células humanas. O CPC é capaz de desestabilizar a membrana lipídica, impedindo-a assim de infetar células humanas. Por outras palavras, o CPC ajuda a reduzir a infecciosidade do SARS-CoV-2 (Muñoz-Basagoiti et al. 2021).
Será que ao diminuir a carga viral na minha boca me protejo de apanhar a infeção COVID-19, transmiti-la ou torná-la menos grave?
Se já houver vírus na sua boca, é um sinal de que já tem a infeção. Contudo, quanto menos vírus tiver na sua saliva, menor é o risco de transmissão do vírus através da sua saliva falando, tossindo, espirrando, etc. (Coleman et al. 2021; Markx et al. 2021).
Alguns estudos demonstraram que existe uma relação direta entre a quantidade de vírus e a gravidade da COVID-19 (Liu et al. 2020). Ou seja, quanto maior a presença do vírus, maior o risco de a COVID-19 ser grave. Considerando que durante os primeiros dias o vírus é localizado, maioritariamente na cavidade oral e garganta (Wolfel et al. 2020) e depois move-se para outros órgãos como os pulmões, a redução da quantidade de vírus na boca pode ajudar a reduzir o risco de severidade da COVID-19. No entanto, outros fatores de risco desempenham um papel fundamental, tais como, o sistema imunitário do indivíduo e não ter outras patologias associadas como hipertensão, doenças cardíacas, diabetes ou obesidade.
O uso do CPC pode curar COVID-19?
Não, o CPC não cura a doença COVID-19, nem impede a sua transmissão. O CPC pode ajudar a reduzir a carga viral e impedir a transmissão por uma pessoa portadora do vírus (Herrera et al. 2020; Vergara-Bonaventura et al. 2020). É mais uma medida preventiva, a ser incluída entre outras medidas, tais como distanciamento social, lavagem das mãos com água e sabão ou géis hidroalcoólicos, utilização de máscaras, etc.
Porque é que é importante utilizar colutórios com CPC durante o período da pandemia de COVID-19?
Os colutórios com CPC na sua composição podem desempenhar um papel fundamental durante este período por uma série de razões:
- Para diminuir o risco de transmissão do vírus de uma pessoa portadora da infeção para uma pessoa saudável (Herrera et al. 2020).
- Diminuir o risco de gravidade da COVID-19, reduzindo a carga viral (Herrera et al. 2020).
- Ajudar a manter uma boa saúde oral e a reduzir os microrganismos patogénicos na cavidade oral. A má saúde oral tem sido associada a diferentes doenças respiratórias, tais como pneumonia e doença pulmonar obstrutiva crónica (Sampson et al. 2020; Gomes-Filho et al. 2020; Jeronimo et al. 2020; Mammen et al. 2020).
Como é que a COVID-19 afeta a cavidade oral?
Foi demonstrado que várias partes da cavidade oral, tais como as glândulas salivares e a língua, contêm recetores ECA2, aos quais este coronavírus se liga (Xu et al. 2020).
Em termos de efeitos nocivos sobre a cavidade oral, alguns casos foram descritos até à data, sendo os mais frequentes a perda de olfato e lesões epiteliais na mucosa oral (Nuno-Gonzalez et al. 2020).
Que organizações internacionais recomendam o uso de antissépticos como o CPC?
Existem vários organismos internacionais que incorporam a utilização de colutórios com antissépticos orais, como é o caso do CPC, antes de um paciente ser intervencionado na clínica dentária:
País – Autoridad Sanitaria
Alemania – Asociación Dental Federal
Australia – Australian Dental Association
Bélgica – Conseil de l’art dentaire de Belgique
Canadá – Canadian Dental Association
Chile – Colegio de Dentistas de Chile
Colombia – Minsalud / Ministerio de Salud
España – Consejo General de Dentistas de España
Estados Unidos – American Dental Association (ADA)
Francia – Association dentaire française (ADF)
Holanda – Nederland Commissie Leidraad Mondzorg Corona
Italia – Associazione Nazionale Dentisti Italiani (ANDI)
Malta – Superintendent of Public Health
Marruecos – CCTD – CHU Ibn ROCHD – Casablanca
Noruega – Norwegian Institute of Public Health
Países Bajos – Royal Dutch Dental Association / Commissie Leidraad Mondzorg Corona
Perú – Colegio Odontológico de Perú
Portugal – Ordem médicos dentistas
Suiza – Swiss Dental Association (SSO)
Além de serem utilizados na clínica dentária, podem ser extremamente úteis para uma utilização diária prolongada durante o período pandémico, a fim de prevenir uma possível transmissão quer por portadores assintomáticos do vírus, quer por aqueles que apresentem sintomatologia associada.
As mulheres grávidas podem utilizar produtos CPC?
Sim, podem, com a supervisão do seu médico dentista. Na gravidez, há um risco acrescido de doenças gengivais causadas pela acumulação de placa bacteriana e aumentadas pelas alterações fisiológicas que ocorrem na gravidez. O CPC é considerado seguro e eficaz em concentrações licenciadas, e tem demonstrado melhorar os índices periodontais e de placa bacteriana em mulheres grávidas (Jeffcoat et al. 2011; Geisinger et al. 2013; Jiang et al. 2016).
Além disso, existem evidências que ligam a periodontite (doença gengival mais grave) a resultados adversos da gravidez, tais como aumento do risco de nascimento prematuro e baixo peso à nascença. De facto, estudos em mulheres grávidas com periodontite avaliaram se o uso de CPC ajudou a melhorar a periodontite e assim reduzir o risco de resultados adversos na gravidez (Jeffcoat et al. 2011; Jiang et al. 2016), tornando ainda mais importante o cuidado das gengivas durante a gravidez, incluindo a escovagem, a higiene interproximal diária e a utilização de pastas de dentes e colutórios com CPC.
